terça-feira, 13 de julho de 2010

água e sal

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'Eu choro às vezes. Quer dizer, eu choro sempre, acho que eu choro todos os dias. Mas de quando em vez eu choro assim, como hoje. Eu choro simplesmente. [...] Choro porque é tudo tão grande e eu sou tão pequena. Porque tudo existe, porque não existe nada lá fora, nada, nada. Choro por medo, porque tenho muita coragem. Tenho tanta coragem, todos os dias. [...] Eu choro, sabe? Eu choro porque a dor não me deixa respirar e mesmo assim eu respiro fundo [...] Eu choro enquanto penso que, mesmo não sabendo onde ir, tenho cada passo programado. Eu choro de quando em vez, porque me comovo e não sinto nada. Porque não há nada a fazer. Porque todas as atitudes precisam ser tomadas. Choro porque sou impotente, porque tudo posso. Eu choro quase sempre, quase o tempo todo, porque o humano que há em mim se atira do parapeito e não há volta. Mas eu volto, todas as vezes. Todos os dias.'


Fal Azevedo
trecho do livro Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite

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