quinta-feira, 18 de novembro de 2010

página 203

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'Num casamento não se partilha, funde-se, confunde-se, diluímos o ser no redondo ouro de uma aliança, deixamos que o nome que dentro dele brilha nos ampare todas as vertigens, nos proteja de todos os nossos secretos pensadelos (...) Provavelmente só se separam os que levam a infecção do outro até os limites da autencidade, os que têm coragem de se olhar nos olhos e descobrir que o seu amor de ontem merece mais que conforto dos hábitos e o conformismo da complementariedade. Só separam os que não suportam saber-se iguais a si próprios, a sépia no decorrer dos anos, depois do muito que na lucidez extrema do amor, cresceram juntos.
A separação pode ser o acto de absoluta e radical união, a ligação para a eternidade de dois seres que um dia se amaram demasiado para poderem amar-se de outra maneira, pequena e mansa, quase vegetal. Um abraço parado sobre o tempo, que se estreita no momento em que, aos olhos do mundo, desparece, porque execede os modelos predeterminados da guerra e paz. Um último desejo de imortalidade, que acende a noite onde todos os desejos pareciam adormecidos no sono dos justos e dos realizados.
Amantes de alguns anos, redescobrimo-nos deslumbrados, em voo sobre a melancolia do passado comum e o abismo do futuro solitário. Só nós dois sabemos que não se trata de sucesso ou fracasso. Só nós dois sabemos que o que se sente não se trata - e é em nome desse intratável que um dia nos fez estremecer que agora nos separamos. Para lá da dilaceração dos dias, dos livros, dos discos e filmes que nos colocaram a vida, encontramo-nos agora juntos na violência do sofrimento, na ausência um do outro como lembravámos de ter estado em presença. É uma forma de amor inviável, que, por isso mesmo, não tem fim.'

Inês Pedrosa
trecho do livro Nas tuas mãos

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4 comentários:

Pipa disse...

Ai, a Inês :) (suspiros)

:o)

Giselle Trindade disse...

OLÁ
ADOREI SEU BLOG E ESTOU TE SEGUINDO
ME FAÇA UMA VISITA E ME SIGA
VOU ADORAR QUE SEJAMOS AMIGAS
BEIJOS

Lunna Guedes disse...

Sei lá, numa noite de pós chuva e silêncio nas minhas laterais, é bom ler algo que parece fazer carícia na nossa pele. Bacio carissima

Camila disse...

Me encantei.